segunda-feira, setembro 12, 2005

Dificuldades.

O ser humano é cheio de inventar onda, não é? Tudo bem que é importante termos um objetivo a ser alcançado, algo que nos motive sempre a ir um pouquinho mais adiante. Isso funciona como um mecanismo de recompensa, acionando circuitos no nosso cérebro que liberam endorfinas (que nos dão a sensação de prazer) a cada vez que alcançamos alguma coisa que desejamos. E após um período de tempo, a sensação passa e nos sentimos impulsionados a buscar um novo objetivo. E assim caminha a humanidade...

Esse é um meio de interpretar o "fogo divino", essa maravilhosa característica que diferencia o Homo Sapiens Sapiens de todo o restante do mundo animal. É por isso que nossos ancestrais não se contentaram em viver em cabanas. Um deles inventou de querer algo melhor, foi lá e fez. É por isso que existem workaholics viciados em trabalho, que têm na superação profissional sua tão almejada recompensa (e também existem viciados em aventura, em fama, em conquistar pessoas, em sexo, em música, em humilhar os outros, em drogas, e etc etc etc..... cada um busca sua própria forma de recompensa - mesmo que não seja saudável).

O mais engraçado é perceber que de repente, isto pode se transformar de um simples mecanismo autônomo para um "way of life". Não adianta negar, existem pessoas que preferem (conscientemente) escolher justo aquela alternativa mais difícil para encarar. (E quem negar veementemente é porque faz isso também...).

Acontece que isto pode trazer algumas consequências. E não estou recriminando quem prefere "viver pelo mais difícil", de maneira alguma! Nem dando um sermão. Apenas divagando sobre este intrigante modo de vida.... Uma vez que a pessoa decide tentar o mais difícil, a chance de obter sucesso é cada vez menor, correto? E o esforço compreendido para atingir tal objetivo é cada vez maior, não é?

Podemos até equacionar: maior dificuldade = menor chance de sucesso + maior esforço.

Fica mais simples assim? Mas pra quê todo esse escarcéu, você deve estar ser perguntando, prezado leitor. Bom, porque ocasionalmente acontece de um desses "complexos seres que querem sempre o mais difícil" topar comigo na estrada da vida. Seja para participar de uma bela caminhada, ou apenas para desabafar sob o efeito de um chopp. É estranho e engraçado ouvir "eu quero sempre o mais difícil, e depois que consigo perde a graça.", ou "o que é muito fácil não tem graça" e suas diversas variantes. Ou ainda ver gente reclamando da má-sorte, quando na verdade a pessoa escolhe justo o que está fadado ao fracasso.

O mais engraçado nessa conta, é que o mecanismo cerebral de recompensa funciona sempre do mesmo modo: atingiu o objetivo, fica feliz e satisfeito, e depois insatisfeito de novo. E daí toca a aumentar a dificuldade para ver se dessa vez a felicidade dura mais. Talvez a busca por algo tão inatingível seja no fundo um modo muito eficiente de fugir. Uma coisa tão bem disfarçada, que leva a própria pessoa a crer que está justamente correndo atrás da felicidade, quando na verdade está fugindo dela o mais rápido possível.

Penso que todos deveríamos nos comportar como os gatos. Isso sim. Que toda vez que saem de casa olham para tudo como se tudo fosse novo. Cheiram cada flor, sobem em cada muro e olham ao longe curiosos - a casa amarela de hoje não é a mesma casa amarela de ontem. Não é porque aquele rato está lá looooonge que isto o torna mais apetitoso. Não é porque aquela flor já estava aqui ontem que isto a torna menos cheirosa e bela.

Os gatos sim que sabem o correto valor das coisas. Cada flor é única e insubstituível.

Talvez por buscar um modo mais simples de viver, de encarar o mundo (e embora nem sempre com sucesso), eu acabe errando na medida de vez em quando. Porque quando falamos de gatos, não importa se a flor vai valorizá-lo ou não. Mas quando falamos de humanos, isso importa. E no final das contas, quem não sabe valorizar e respeitar o outro, é porque não se valoriza e não se respeita. E viva os gatos!

In the end, the love you take is equal to the love you gave.